Elogio do Perfeccionismo

segundo Michael Dummett

"... É tão objectável num estado capitalista como num estado comunista que sejam os políticos a decidir como as universidades devem funcionar; mas é catastrófico quando esses políticos revelam uma ignorância total da necessidade de julgar a produtividade académica por princípios muito diferentes dos que se aplicam na indústria.

... Aqueles professores que entregavam os textos, que tinham prometido publicar, uns vinte anos mais tarde, eram para nós um motivo de ironia, mas era uma ironia com respeito, porque sabíamos que o atraso tinha sido devido não à negligência mas ao perfeccionismo. O perfeccionismo pode ser obsessivo, como o que impediu Wittgenstein de publicar, ainda em vida, um segundo livro e, provavelmente, te-lo-ia feito mesmo que tivesse vivido muitos mais anos; mas se o perfeccionismo é um defeito, poder-se-ia dizer, é um defeito do lado da virtude. Toda a publicação científica, livro ou artigo, vem aumentar o peso de tudo o que já se tem que ler e por essa via reduzir a possibilidade de se ler outros livros ou artigos. Por consequência uma publicação não está automaticamente justificada por ter algum mérito: o mérito tem que ser suficientemente alto para compensar o prejuízo causado pela sua simples publicação...

Fomos educados a acreditar que só se devia publicar um trabalho quando já não se visse a possibilidade de o melhorar. Ainda acredito que é este o critério que se deve aplicar; é a única possibilidade que existe de manter a qualidade do trabalho publicado tão alta, e a sua quantidade tão baixa, quanto possível."

Michael Dummett - Frege: Philosophy of Mathematics, Duckworth, Pg. x, 12 Julho de 2006

Ref.: http://ww3.fl.ul.pt/pessoais/mslourenco/

Palavras chave/keywords: science, publications

Criado/Created: 23-01-2015 [16:12]

Última actualização/Last updated: 10-10-2022 [14:47]


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(c) Tiago Charters de Azevedo