Reconhecer

O primeiro passo é reconhecer.

Reconhecer que o fim do crescimento económico nos países desenvolvidos é condição para impedir o aquecimento global.

Reconhecer igualmente a necessidade de reduzir o consumo de combustíveis fósseis e as suas implicações para o aquecimento global.

Reconhecer que de nada vale reconstruir-mos o sistema económico actual noutro. Construamos um novo de estabilidade, sustentabilidade e redistribuição. E que socorra os pobres numa base de ethos convivial e não apenas de criação riqueza. Convivialidade significa viver em harmonia com o nosso ambiente pessoal, cultural e social e reconhecer-las como parte importante da alegria, da justiça social e da sanidade ecológica. Fazemos parte de uma das gerações mais ricas que habitaram o planeta resta-nos agir com conhecimento e sabedoria para o deixarmos aos nossos filhos.

Reconhecer que devemos reorientar a economia reforçando o ordenado mínimo nacional e introduzir simultaneamente um máximo rendimento admissível.

Reduzir as complexidades dos benefícios fiscais e créditos fiscais promovendo a justiça social através da implementação de um rendimento básico universal financiado por impostos dando suporte a desempregados, cuidadores informais e a todos os que não podem ter um trabalho remunerado como crianças, estudantes, trabalhadores voluntários, idosos, pessoas com deficiência física ou mental e membros de famílias que as suportam e cuidam.

Reconhecer que o desemprego é um fenómeno incurável e que qualquer actividade que valha a pena é uma parte essencial da alegria de viver e que devemos reorientar a sociedade de forma a que o trabalho não remunerado em casa ou na comunidade (suportado por um rendimento cidadão) seja reconhecido como tendo um valor em si mesmo e intrínseco.

Reconhecer que precisamos de reduzir o consumo energético. Energia nuclear não é solução porque precisamos de nos desfazer dos desperdícios radioactivos. Descarbonificar os processos produtivos, isolar e aumentar a eficiência energética das nossas casas e edifícios. Apoiar intensamente a investigação científica em armazenamento energético. A nível pessoal sugiro uma ideia: roupas quentes e arranjar uma bicicleta.

Reconhecer a dependência nos combustíveis fósseis na produção de comida para consumo humano e a sua distribuição. Precisamos de aumentar a produção local, consumir menos carne e aproveitar o que as estações do ano nos oferecem.

Repensar como ganhamos dinheiro. De trabalho remunerado, sim; de investimento, sim; de especulação, não. Devemos perguntar-nos qual é o valor social que se obtém por compra e venda de acções nos mercados bolsistas? O mercado de escravos foi já considerado uma forma legítima de negócio, o trabalho infantil também. Ambos foram e são abusos excessivos. Talvez essa compra e venda de acções possam ser vistas desse prisma também, excessivas e abusivas: um lucro de um é a perda de outro.

Repensar a democracia. É o nosso bem mais precioso, a nossa defesa contra os autocratas e tiranos wanna-be. A liberdade de imprensa é uma parte importante dela, a liberdade de informar e a liberdade de debate sem enviesamento ideológico (seja de esquerda ou de direita) fazem parte da educação adulta.

Repensar a educação. Reconhecer que a escola e o curriculum oferecido contribuem hoje para o falhanço do mundo: bussines as usual, economistas chicos-espertos, empreendedores para alavancar exportações, trabalhadores obedientes e clericais altamente classificados e com *skills em computadores; o foco no modo de competição, uma cultura *me-first* e uma sociedade regulada por uma elite selvagem. Tudo isto surge com frequência em vez de desenvolvimento de bem estar físico, destreza cognitiva, sensibilidade social, habilidades sociais e entendimento ambiental, merecemos melhor qualidade de vida baseada em valores conviviais e conhecimento cultural e que tem com muitos ramos. Como cidadãos precisamos de obter um modo de vida colaborativo e sustentável baseado numa reflexão crítica da sociedade. São assuntos para uma vida de aprendizagem que deve começar na escola e ser vividos alegremente. Muito pouco disto ocorre nas nossas escolas. Precisamos de escolas verdadeiramente comunitárias com as decisões educativas e que sejam tomadas colegialmente, suportadas e financiadas pelos governos mas não controladas por estes.

Criado/Created: 26-06-2019 [10:21]

Última actualização/Last updated: 14-02-2024 [10:41]


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(c) Tiago Charters de Azevedo